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Panteões

O majestoso conjunto monástico que é o Mosteiro da Batalha acolhe no seu interior dois panteões, planificados de raiz por Huguet, que não estavam previstos no plano primitivo do monumento: Capela do Fundador e as Capelas Imperfeitas, ambas de planta centralizada. A primeira pensada por D. João I para seu panteão realizou-a na totalidade, revelando estar em plena posse dos seus recursos técnicos e artísticos, amadurecidos nos muitos anos à frente do estaleiro batalhino e, ensaiados já, na ousada abóbada da caso do capítulo. Esta capela combina dois tipos de plantas pelo que, dentro de um espaço quadrado, com 19,80m de lado, dispuseram-se, de maneira oblíqua em relação à parede, oito pilares suportando arcos quebrados, de modo a definirem um octógono. Este octógono coberto com uma complexa abóbada estrelada em cuja chave pontificam as armas do rei D. João I tem dois andares, subindo mais alto que o espaço envolvente. Conjugaram-se assim a planta quadrada e a octogonal e criaram-se dois volumes arquitetónicos diferentes.

Se hoje nada resta que permita lembrar o que foi o primitivo arranjo, interior e exterior, da capela dadas as transformações introduzidas muitas delas consequência de acidentes naturais como o terramoto de 1755, da nefasta ação humana, perpetrada pelas tropas francesas em 1810 que, entre muitos desacatos arrobaram os túmulos, destruíram e pilharam a capela ou ainda resultado, após 1834, com a partida dos dominicanos, da nova perceção daquele espaço desvalorizando a primitiva vertente sacro-religiosa e realçando o carater profano expresso num simbolismo romântico, nacionalista e celebrativo. Na sequência do terramoto nunca mais foi reconstruída a esguia agulha piramidal que encimava, exteriormente, o octógono da capela tendo sido adotada a atual solução. Quanto aos túmulos vandalizados pelos franceses, tiveram de ser restaurados, intervenções que continuaram no último quartel do século XIX, até sobretudo cerca de 1930, sendo substituídos os seus frontais por cópias novas. Por sua vez o “novo olhar” sobre a Capela do Fundador implicou que, na sequência da retirada de todos os objetos litúrgicos e alfaias religiosas bem como a demolição dos altares, fossem “apagados”, praticamente, todos os indícios que fizeram daquele lugar um espaço de oração, por excelência.

 

Quanto ao segundo panteão, encomendado pelo rei D. Duarte, filho de D: João I, com idêntica finalidade de panteão familiar, ficou inacabado até aos dias de hoje, daí a designação de Capelas Imperfeitas, vulgarmente usada.

Erguidas por Huguet apenas até à altura dos seus arcos quebrados acairelados as capelas foram sendo abobadadas em momentos diferentes. Utilizando uma linguagem elaborada, de que sobressai o uso de chaves pendentes ao gosto do perpendicular inglês, destaca-se entre todas a que se reservava ao rei D. João II e a sua mulher, a rainha D. Leonor (1458-1525). O denso e elaborado trabalho da abóbada desta capela coloca-a, a exemplo do portal de entrada, de Mateus Fernandes, como um dos momentos mais originais da Arte Manuelina.

Apesar da tentativa de conclusão desta rotunda ensaiada por D. Manuel I nunca, por mão humana, se lançou a abóbada restando assim por limite aquela celestial...

Já nas primeiras décadas do século XX foi depositado, na capela axial, o túmulo duplo do rei D. Duarte e da rainha D. Leonor, os esposos representados de mãos dadas em imitação assumida do túmulo de D. João I e D. Filipa de Lencastre, seus pais.

Na mesma altura, aquando das campanhas de reintegração do monumento trouxeram-se para o panteão todos os túmulos espalhados na igreja, mesmo aqueles que nenhuma relação tinham com ele.

Ao longo da segunda metade do século XIX o panteão duartino sofreu diversas intervenções de restauro ou simples conservação onde se incluíram os trabalhos da regularização do octógono central para receber lajedo, de modo a embelezá-lo e a evitar o crescimento de ervas.

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