Existem numerosos testemunhos de reparações regulares sofridas pelos edifícios do Mosteiro da Batalha e pelos seus vitrais ao longo da respetiva existência. Porém, ao ser extinto o convento e assumido o estatuto de monumento para o imóvel, aparecerá a ideia de restauro como ato de devolução dos edifícios a um estado primitivo, mais puro. A Batalha será o primeiro grande estaleiro português de restauro monumental, a partir do final de 1840.
Ao passar pelo Mosteiro, em novembro de 1836, numa viagem ao norte do País, o rei consorte, D. Fernando II, ficou profundamente impressionado com o avançado estado de degradação de tão magnífica obra. Regressado à capital do Reino, sensibilizou os órgãos governativos para a necessidade de encontrar meios para o restauro do monumento. Em novembro de 1840, seis anos volvidos sobre a extinção das ordens religiosas, começa-se a preparar o restauro do Mosteiro da Batalha, cuja direção será entregue ao inspetor-geral de Obras Públicas, Luís da Silva Mouzinho de Albuquerque. Os trabalhos do grande estaleiro ali instalado prolongaram-se até ao início do século XX, refletindo os ideais com que foram empreendidos e condicionando irreversivelmente a perceção da arquitetura e da paisagem.
O programa de restauro a que se deu cumprimento na Batalha é da autoria de Mouzinho de Albuquerque, ainda que a sua responsabilidade executiva tenha cessado logo em finais de 1843, quando, por razões políticas, foi afastado do cargo de inspetor-geral de Obras Públicas. Joaquim Guilherme Rebelo Palhares, apontador (gestor de obra, diríamos hoje) desde o início das campanhas de restauro, será o responsável pelo estaleiro até à sua morte, em 1852. Neste mesmo ano, é nomeado o arquiteto Lucas José dos Santos Pereira para a direção das obras da Batalha, que exercerá igualmente até à morte, em 1884. Substitui-o o construtor-chefe José Augusto Fragoso, até ao final do século.
O restauro oitocentista da Batalha – o mais vultuoso de sempre – foi determinante para o futuro do monumento, de uma forma um tanto paradoxal. Por um lado, garantiu a integridade dos edifícios góticos e manuelinos. Por outro lado, apagou a memória de um convento maneirista e barroco, abrindo o caminho à destruição do tecido urbano que se urdira a par da construção do Mosteiro. Acima de tudo, o restauro do século XIX é uma lição ainda viva de que qualquer intervenção no património arquitetónico e paisagístico é sempre fruto do seu tempo.
O interesse pelos edifícios medievais encontra eco nos ideais românticos e liberais, na literatura e nos revivalismos que se irão afirmando na arquitetura, a par da formulação de teorias artísticas baseadas quer na possibilidade de reviver os estilos arquitetónicos, quer na morte natural e inapelável das formas passadas. Assim, além da demolição integral de dois claustros e dependências anexas, construídos a partir de 1552, assistiu-se, na Batalha, a “acertos” estilísticos, como, por exemplo, a introdução de platibandas onde não existiam, ou a total reconfiguração das fachadas interiores e exteriores do Claustro de D. Afonso V para ele parecer “mais gótico”. O levantamento do edifício publicado por James Murphy, em Londres, entre 1792 e 1795, foi um documento influente nas decisões dos restauradores da Batalha, não apenas por conter informações sobre elementos desaparecidos, mas também por propor soluções ideais de unidade estilística.
A imagem que captamos e guardamos hoje do Mosteiro da Batalha resulta de um conceito de monumento desarreigado do seu contexto urbano e paisagístico inaugurado no século XIX: as demolições de edifícios então considerados “sem valor” criaram vazios em relação à envolvente que subsistiram até á atualidade como um problema de relação de valores espaciais, acabando no ermamento extensivo da periferia do Mosteiro. Nos anos sessenta do século transato, será levada ao extremo esta operação.
Do ponto de vista da intervenção no edifício tal como ele nos foi legado pelos restauradores de Oitocentos, o século XX seguirá dois caminhos: um primeiro, sucedâneo do anterior, que irá eliminar “contaminações” maneiristas e barrocas da preexistência medieval, como, por exemplo, vários altares de pedra e talha dourada, com ou sem pintura; um outro, que privilegia o valor da obra enquanto documento histórico e estético, preferindo as medidas conservativas ao restauro.
Após a extinção, é pedido a D. Maria II o usufruto da igreja do Mosteiro pela paróquia da Batalha, devido à ruína em que então se encontrava a igreja matriz, ao que a soberana acede. (...)
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O majestoso conjunto monástico que é o Mosteiro da Batalha acolhe no seu interior dois panteões, planificados de raiz por Huguet, que não estavam previstos no plano primitivo do monumento: Capela do Fundador e as Capelas Imperfeitas. (...)
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