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Sistema Hidráulico


O convento de Santa Maria da Vitória foi construído num sítio natural ameno, densamente florestado, localizado num vale, na confluência de vários cursos de água (ribeiras da Calvaria e da Quinta do Sobrado e rio Lena) e na proximidade de importantes, ou posteriormente importantes, vias de comunicação para Leiria, Santarém e Lisboa.
As características fisiográficas do local, com declives sul/norte e poente/nascente, facilitaram o sistema hidráulico do convento, bem como a implantação sobranceira da sua igreja, segundo as preferências da Ordem Dominicana.
A adução de água potável fazia-se a partir de uma nascente prospetada na Jardoeira, a cerca de 0,900 km, através de canalização subterrânea, de calcário brando, até ao lavabo do claustro real. Conhece-se com rigor o sítio das duas mães d'água, junto ao Casalinho de Santo António, que se manteem inesgotáveis e de onde ainda parte a água que abastece o hoje designado lavatório dos frades. Chegada aqui, a água era repartida para a cozinha e para outras necessidades da comunidade conventual ignorando-se a maior parte dos seus itinerários internos devido às alterações de uso que a cozinha e as restantes dependências conventuais sofreram com a incorporação na Fazenda Nacional, após a supressão das ordens religiosas, no ano de 1834.
No centro do claustro real, há um poço com grande capacidade de retenção de água. Terá servido, certamente, para o aprovisionamento inicial do convento, até à conclusão do sistema hidráulico em análise, e para a irrigação do jardim adjacente. Nos períodos de maior escassez hídrica constitui, certamente, uma reserva de emergência e um recurso para a comunidade religiosa.
Por sua vez o sistema de evacuação, parcialmente, subterrâneo e visitável, derivava de um açude a montante do convento (o açude do Loureiro), formado na confluência das ribeiras da Calvaria e da Quinta do Sobrado. Este canal, que passa sob a cozinha e o bloco das latrinas e onde desembocavam a canalização secundária das águas residuais e os efluentes das retretes, ia desaguar, a céu aberto, no rio Lena.
O escoamento do poço do claustro real e das águas pluviais fazia-se para o dreno que corre pelo eixo da ala nascente do claustro, vinda da nave colateral norte da igreja, e desagua no coletor de evacuação, um pouco antes das latrinas, reforçando o seu caudal.
A construção deste importante duplo sistema de adução de água potável e de evacuação dos esgotos do antigo Convento Dominicano de Santa Maria da Vitória, que remonta aos meados do século XV, e hoje se mantém parcialmente intacto e ativo, comprova a experiência e a perícia técnica do seu mestre-pedreiro nos domínios da engenharia hidráulica e da tecnologia sanitária.


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