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Ricardo Leone

Ao vitralista e grande empresário Ricardo Leone se deve a iniciativa de restaurar o tríptico da Paixão, conjunto de vitrais da casa capitular, datado de 1514. Encontrava-se a realizar uma de série painéis para substituir caixilhos de madeira com vidros coloridos instalados nas janelas do clerestório da igreja, sob as ordens da Direcção Geral dos Edifícios e Monumentos Nacionais, em 1931, quando propôs à mesma o restauro dos vitrais da sala do capítulo. Sem indicações expressas para o fazer, tomou a decisão de proceder ao apeamento e empreender o restauro daquele magnífico conjunto, temendo que ele acabasse por se perder completamente. O sucesso deste trabalho, concertado entre o próprio Leone, o pintor Mário Costa e o Dr. José de Figueiredo, então Diretor do Museu das Janelas Verdes, mereceu uma exposição do conjunto nesse mesmo museu, ao longo de mais de meio ano. Valeu ainda a Leone a encomenda do restauro do vasto conjunto da capela-mor, datado de c. 1514 – c.1531, que lhe levou toda a restante década de trinta a concluir.

 

Ricardo Leone fora discípulo de Cláudio Azambuja, que, com a fundação, em 1905, da sua oficina, sediada primeiramente no Monte Agudo e depois na Rua da Escola Politécnica, em Lisboa, foi o principal responsável pela revitalização da arte do vitral em Portugal, no início do século XX.

 

Tendo passado por todos os setores de laboração da empresa, Leone tomou a seu cargo, durante grave doença do mestre, a direção dos trabalhos, adquirindo a oficina em 1920, após morte deste.

 

Os mais prósperos anos daquela que então ficaria a chamar-se Oficina de Vitrais e Mosaicos de Arte Ricardo Leone foram os da década de trinta e quarenta, distinguindo-se o seu trabalho mais pela qualidade de execução – raiando, por vezes, o virtuosismo técnico – do que pelas suas propostas estéticas, embora tenha viabilizado cartões de destacados pintores como Almada Negreiros ou Abel Manta.

 

Leone viria a falecer em 1971 e com ele a sua oficina. Em vida, este dinâmico self made man colocou grandes esperanças na implantação da arte do vitral em Portugal, lutando com graves dificuldades, as quais, enquanto a sua vitalidade permitiu, sempre encarou com grande inteligência e procurou resolver não só em benefício próprio como em benefício do País e da sua cultura.

 

Relativamente aos vitrais quinhentistas da Batalha a dívida portuguesa para com Leone é muito grande, pois à sua ousadia, inteligência e perseverança se deve, em última instância, o facto de ainda hoje termos vitrais dessa época.

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