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Rainhas inglesas na Batalha

Batalha, 17/02/2017

Rainhas inglesas na Batalha

Filipa de Lencastre foi a única monarca de origem inglesa a entrar no Mosteiro da Batalha? De facto foi-o até que há 60 anos Sua Majestade a Rainha do Reino Unido, Isabel II, resolveu fazer o mesmo.

A 18 de Fevereiro de 1957, Isabel II, então com 30 anos, iniciava oficialmente a sua primeira visita a Portugal. Simultaneamente, esta era a primeira visita de um chefe de estado britânico desde que o seu bisavô, Eduardo VII, tinha conhecido oficialmente, a convite do seu primo e rei de Portugal, D. Carlos, este pequeno paraíso de sol à beira mar plantado.

Isabel II havia aterrado em Portugal, na Base Aérea do Montijo, dois dias antes, a fim de retribuir a visita que o então Presidente da Republica, General Craveiro Lopes, fizera a Inglaterra, em 1955. Ainda assim, o propósito da mesma visita era igualmente, o encontro com o seu marido, o Duque de Edimburgo, que sendo oficial da marinha britânica achava-se em viagem, há vários meses. Aos olhos do governo português a visita tornava-se a oportunidade perfeita para devolver a Portugal o seu papel no panorama internacional, depois da II Guerra Mundial e face à sua postura colonialista.

A recepção fora preparada com meses de antecedência sob o maior rigor e critério e vistoriada ao pormenor por Oliveira Salazar, não se poupando a gastos para o efeito.

Isabel II jamais teve, nos seus 65 de reinado, uma recepção tão apoteótica e faustosa, bem como o Estado português enquanto anfitrião. Esta fora a «visita do século», ainda hoje falada nos meios diplomáticos nacionais.

Um mês antes da chegada da soberana, os jornais portugueses não falavam de outro assunto, verificando-se o mesmo entre os periódicos nacionais e internacionais durante a sua estada.

A visita iniciara-se com o triunfal desembarque no Terreiro do Paço, percorrendo o desfile pela Rua Augusta, Avenida da Liberdade e Parque Eduardo VII. A Rainha da Grã-Bretanha ficara instalada na ala D. Maria, do Palácio de Queluz, seguindo-se o jantar de gala no Palácio da Ajuda.

No dia seguinte percorreu algumas áreas de Lisboa, foi recebida para um almoço nos Paços do Concelho daquela cidade, culminando o dia com uma récita em São Carlos. Ao terceiro dia, Isabel II visitava a Nazaré, o Mosteiro de Alcobaça, onde lhe fora servido, no antigo refeitório cisterciense, um magnífico almoço, seguindo posteriormente para o Mosteiro da Batalha e Vila Franca de Xira.

A passagem pela Batalha fora marcada por uma homenagem da Rainha que depositou uma coroa de louros pontuada de papoilas junto ao túmulo do soldado desconhecido enquanto ressoava a Marcha de Continência, por uma fanfarra de clarins. No exterior do antigo convento dominicano eram efectuados disparos compassados por uma bateria de artilharia.

Por entre a turba, contavam-se antigos combatentes da I Guerra Mundial, nacionais e estrangeiros, que perfilados e envergando as suas condecorações assistiam com alguma emoção. Esse sentimento não terá sido indiferente a Isabel II, que conheceu particularmente os constrangimentos da guerra. Visitando em seguida a Capela do Fundador, onde repousam os restos mortais de D. João I e D. Filipa de Lencastre, sua antepassada. O casamento destas duas personagens da história portuguesa, em 1387, encontrava-se na origem da mais velha aliança portuguesa e europeia, o Tratado de Windsor, apelido da casa real inglesa desde 1917.

No regresso a Lisboa a monarca ofereceu um jantar, no seu iate, o Britannia, fundeado no rio Tejo, às principais figuras do Estado Novo, seguindo-se um intenso e majestoso fogo-de-artifício.

No dia seguinte a Rainha da Grã-Bretanha partia do aeroporto da Portela rumo à cidade do Porto onde estaria apenas por umas horas, mas onde foi recebida com igual apoteose, partindo depois rumo ao seu país, do aeroporto de Pedras Rubras.

A visita em causa tornara-se inesquecível para Isabel II revertendo, ao mesmo tempo, num enorme impacto moral e mediático para Portugal.

Bruno Sampaio Lobo

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