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Modelos

 

Do ponto de vista da disposição relativa das dependências conventuais, o projeto inicial do Mosteiro da Batalha conforma-se ao que era habitual nos mosteiros medievais, desde a mais remota tradição beneditina. Tal como tanto outros mosteiros, em particular os que foram de patrocínio régio, foi sofrendo ampliações, materializadas pela justaposição tanto de grandes capelas funerárias como de novos claustros com as suas dependências periféricas. Os panteões de D. João I e de seu filho D. Duarte foram as primeiras capelas funerárias régias portuguesas a ser concebidas como edifícios autónomos.

 

Desde finais do século XIV até os primeiros anos do século XVI, o Mosteiro da Batalha foi o maior e mais avançado estaleiro do País. Aqui se projetaram e executaram as soluções arquitetónicas e construtivas mais arrojadas, a partir da tradição existente, através da vinda de artistas e artífices de outros reinos ou do génio de artistas nacionais. A Batalha foi, ao longo de mais de um século, centro de receção e difusão de correntes artísticas, funcionando, do mesmo modo que os estaleiros das catedrais europeias, como escola para os mais diversos profissionais de arquitetura e construção.

 

Os primeiros edifícios, projetados e executados sob a direção de Mestre Afonso Domingues, bebem na tradição gótica radiante consolidada em Portugal. O que é excecional nestas obras é a sua escala e o facto de serem completamente abobadadas. A espacialidade da igreja, que se adivinha na sua fachada principal, com a nave central proeminente em relação às laterais, é, porém, a das igrejas mendicantes que se conhecem em Portugal desde meados do século XIII. Os arrojados sistemas de cobertura, por seu lado, refletem a experiência amadurecida nos estaleiros do deambulatório da Sé de Lisboa e no coro alto de S. Francisco de Santarém. Também o claustro, projetado e parcialmente construído pelo mestre português, tem antecedentes nacionais, nomeadamente no claustro da Sé do Porto. O portal do transepto encontra a sua origem em vários portais góticos portugueses anteriores.

 

Na conclusão da igreja e do Claustro Real, a intervenção de Mestre Huguet foi naturalmente condicionada pela preexistência: por um lado, os suportes já construídos para as abóbadas não permitiram particulares inovações nestas; por outro lado, parece ter existido, por parte do novo arquiteto, uma preocupação com a uniformidade do edificado, como é bem visível nas novas naves do claustro que construiu. Nestes edifícios, a inovação não ultrapassou a mudança das formas das nervuras e chaves de abóbadas, e, no caso exclusivo do claustro, das colunas dos pilares.

 

Apesar de tudo, a igreja ainda pôde oferecer oportunidades de reformulação do que teria sido o projeto inicial. São certamente de Huguet os grandes janelões laterais da capela-mor que vieram modificar completamente o que estava consignado para a iluminação do coro das igrejas de tradição mendicante. Seus são também os terraços e telhados de perfil baixo, os coroamentos flamejantes de pináculos e platibandas, as bandeiras de um bom número de janelas, e, por fim, mas não menos importante, o portal principal. Todas estas obras acusam uma linguagem arquitetónica que é própria do gótico internacional e que, portanto, apenas poderia resultar da vinda para a Batalha de um mestre instruído no estrangeiro.

 

A pátria de Huguet não é conhecida através de qualquer referência explícita. No entanto, os terraços e telhados de perfil baixo, que lembram os da Catedral de Palma de Maiorca, a semelhança do portal com o do projeto de Mestre Carlí para a Catedral de Barcelona ou das suas esculturas com as do portal de Santa Maria de Ampúrias, bem como as abóbadas estreladas que aparecerão na Capela do Fundador, na casa capitular e a que estava prevista para as Capelas Imperfeitas remetem para um horizonte geográfico que é o da antiga Coroa de Aragão, coincidente, em parte, com a Catalunha, mas que se estendia até ao Reino de Nápoles, passando pelas Ilhas Baleares. No portal estão patentes, é certo, fontes mais antigas, nomeadamente vários portais trecentistas da Normandia. No entanto, a chegada tardia dos respetivos modelos a Portugal só pode ser explicada pelo longo caminho que até aqui tiveram que fazer. Em todo o caso, o portal da Batalha ficou como uma exceção no panorama da arquitetura nacional.

 

A inovação de Huguet não se limitou ao que lhe foi dado concluir na igreja. Na verdade, teve ocasião de projetar e acompanhar a construção da capela funerária de D. João I, mais conhecida pela designação de Capela do Fundador, onde fez prova, da maneira mais clara e eloquente, do domínio de todos os recursos de uma arquitetura até então desconhecida em Portugal: abóbadas de traçado complexo e perfil baixo, cobrindo amplos espaços; suportes adelgaçados e de traçado mais desenvolvido; amplas janelas com seus complicados preenchimentos, que iluminam o interior generosamente. A Capela do Fundador parece corresponder à reinterpretação de uma velha tradição de edifícios funerários de planta centrada que será retomada no projeto do panteão de D. Duarte (Capelas Imperfeitas) e inaugurará uma série de panteões congéneres na Península Ibérica, de que são exemplo a Capela do Condestável, na Catedral de Burgos, e a Capela de D. Álvaro de Luna, na Catedral de Toledo.

 

Os ensinamentos de Huguet perduraram no seu discípulo Martim Vasques, que, após a morte do mestre, deu início ao projeto do panteão eduardino e certamente concluiu ou até reconstruiu a ousada abóbada da casa capitular. Durante o curto reinado de D Duarte, a regência de D. Pedro e o reinado de D. Afonso V, algumas dependências do Mosteiro, além do panteão já referido, foram realizadas. Entre elas se contam a Adega dos Frades, o refeitório e a cozinha. Todas se caracterizam por uma simplicidade que faz lembrar edifícios mais antigos, nomeadamente cistercienses, não explicável apenas pelo facto de se tratar de dependências de uso doméstico.

 

A simplificação e o despojamento em termos idênticos consuma-se no Claustro de D. Afonso V, que, a par de outras construções áulicas do tempo, se afirma como emblema de um gosto austero, lembrando vários edifícios quatrocentistas da Catalunha, aonde pode remontar a inspiração correspondente. É conhecida a influência de Cister em toda arquitetura medieval catalã.

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