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Viajantes


Durante a sua existência conventual, foi o Mosteiro da Batalha visitado não apenas pelos monarcas portugueses e por altos dignitários do clero mas ainda por outras individualidades que, apesar do seu variado perfil, designamos normalmente por "viajantes". Une-os o facto de terem ido ao Mosteiro por interesses pessoais, o que se documenta a partir de 1760, com a visita de Thomas Pitt (1737-1793). Tendo concluído os estudos universitários em Cambridge, integrou uma embaixada extraordinária enviada pelo monarca britânico à Coroa portuguesa. Conseguiu-o graças ao facto de seu tio, William Pitt, ser então o Secretário de Estado do governo inglês que organizou a referida embaixada, dando assim início ao que se tornara habitual entre os recém-formados jovens aristocratas britânicos: uma viagem de estudo cujo destino último era Itália e que recebia o nome de Grand Tour. A passagem por Portugal, a que se seguiria Espanha, foi determinada não só pelo facto de Inglaterra se encontrar em guerra com a França, o que inviabilizava a travessia terrestre rumo a Itália, como ainda pelo objetivo de investigar as origens da arquitetura gótica, a instâncias de um círculo de intelectuais e antiquários de Cambridge. Em particular, urgia argumentar contra a incómoda teoria, recuperada por Christopher Wren, de que o Gótico tinha a sua génese no chamado arco sarraceno. A partir de Thomas Pitt, a visita aos grandes mosteiros da Estremadura - Alcobaça, Batalha e, por vezes, Mafra - passa a fazer parte do itinerário de diversos viajantes ilustres da segunda metade do séc. XVIII, planeado, em vários casos, pela própria corte portuguesa. Como testemunho destas visitas ficaram numerosos manuscritos e um conjunto de obras impressas.
Após o regresso de Pitt a Inglaterra, Horace Walpole, desejoso de fazer justiça à genuína arquitetura gótica, encomendou-lhe o desenho de diversos elementos decorativos, inspirados no que pudera observar ao longo da viagem, para a sua residência de Strawberry Hill, perto de Londres.
O diário de viagem de Thomas Pitt chegou ao conhecimento de numerosos intelectuais, estetas e antiquários britânicos. Um deles terá sido William Conyngham (1733-1796), aristocrata irlandês que cedo se notabilizou pelo patrocínio do registo gráfico de monumentos na sua ilha natal. O gosto pela arquitetura gótica, bem em voga na época, levou-o a procurar os serviços do arquiteto James Wyatt, em 1775, para a renovação da sua residência ancestral, Slane Castle. Porém, apenas dez anos mais tarde se efetivaria essa renovação, informada já por uma nova visita, do próprio William Conyngham ao Mosteiro da Batalha. De facto, em 1772, viera a Portugal invocando razões de saúde, mas naturalmente com interesses dissimulados de prospeção económica e com o fito de desenhar o já famoso mosteiro gótico. Além do registo que dele fez diretamente, na companhia do coronel Tarrant e do capitão Broughton, procurou ainda obter eventuais desenhos existentes à data e encomendou trabalho ao pintor do Porto, João Glama Ströberle.
Recorrendo ao arquiteto James Murphy, viria Conyngham a intentar a produção de uma coleção de desenhos sobre o Mosteiro da Batalha, a partir de todos os elementos que compilara durante a sua visita a Portugal, certamente com o objetivo de a publicar e vir a ser aceite no círculo do antiquariato londrino. No entanto, ao verificar-se a insuficiência de informação para satisfazer esse fim, terá o patrono sugerido ao arquiteto que se deslocasse à Batalha para aí proceder ao levantamento exaustivo do edifício.

James Murphy

Percebe-se, desde logo, que a vinda de James Murphy não se inscreve no Grand Tour de um jovem aristocrata, sendo antes acaso de fortuna que, desta vez, tocou a um homem de talento já reconhecido mas que começara a sua carreira de maneira menos fácil. (...)
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William Beckford

Distingue-se o testemunho deste visitante de todos os restantes, tanto pela qualidade do seu tributo literário como pela fabulosa inspiração das suas realizações no campo da arquitectura e do vitral. (...)
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