Não sabemos, ao certo, em que momento se constituiu a Quinta da Várzea, situada a poucos quilómetros para noroeste do Mosteiro, como um outro território da comunidade dominicana da Batalha. O autor de O Couseiro ou Memórias do Bispado de Leiria, que escreve na segunda metade do século XVII, afirma que a mesma constava de moinhos de pão, terras e um lagar de azeite e, ainda, que ali iam os religiosos da Batalha “ter férias e aliviações, às semanas ou dias ordenados pelo prelado”, acrescentando, mais adiante, que na quinta “assiste ordinariamente um religioso, do mesmo hábito, e é frade leigo ou converso, que tem cuidado dos moinhos e terras, e de mandar pôr tudo em boa ordem e cobrança”. Nas suas funções, tanto produtivas como recreativas, a Quinta da Várzea era, afinal, uma extensão da própria cerca conventual.
Desde o início do séc. XVI, encontram-se referências documentais a uma várzea na Maceira, a moinhos dos frades na ribeira da Maceira, ou simplesmente na Várzea, que podem corresponder à propriedade que hoje conhecemos pelo nome de Quinta da Várzea, já então na posse da comunidade dominicana da Batalha. De facto, esta quinta tem como limite, a poente, a ribeira que nasce perto de Maceira para desaguar no rio Lena. No final dos anos sessenta do século passado, ainda conservava a Quinta da Várzea vestígios de dois moinhos.
Em 1535, celebra-se um contrato de aforamento, entre o convento da Batalha e um cavaleiro da casa real, relativo a um moinho com suas terras, na Várzea, ficando este com a obrigação de fazer casas, uma azenha de azeite e um moinho de pão para onde o Mosteiro devia mandar todo o grão a moer fora. Encontra-se aqui provavelmente o primeiro sinal de desenvolvimento de um conjunto de infra-estruturas que seriam, mais tarde, aglutinadas pelas dependências dos próprios frades.
Diz ainda O Couseiro que, para albergar os frades, a quinta “tem celas e outras casas; e é lugar muito aprazível no verão porque tem muita água, e tem dentro na quinta uma ermida, da invocação de S. Gonçalo”. Não subsistem vestígios dos moinhos, sendo porém ainda reconhecível o edifício em que se situavam as “celas e outras casas”, bem como a Capela de S. Gonçalo, separada daquele. O momento exato e o motivo por que terão os frades da Batalha decidido reservar para seu uso exclusivo a Quinta da Várzea não é conhecido.
Dos edifícios que se conservam, ainda que muito arruinados, distinguem-se as dependências domésticas da Capela, separadas entre si alguns metros. As primeiras compreendiam, no piso térreo, uma lagariça, a adega e armazéns, e, no piso superior, os aposentos. Uma análise ainda incipiente faz supor que o bloco construtivo fronteiro, abobadado no piso térreo e dotado de escadaria exterior e alpendre, fosse o núcleo mais antigo, provavelmente mandado construir por Nicolau Salgado, o fidalgo que tomou de renda a propriedade em 1535. Transversalmente a este bloco dispõe-se um outro, sobrado, que apresenta um pequeno dormitório com celas separadas por um corredor, desembocando no núcleo mais antigo através de um arco de cantaria. As características desta peça permitem datar o dormitório do século XVII. Uma grande ampliação para as traseiras parece ter tido lugar no tempo em que a Quinta da Várzea pertenceu à família Mouzinho de Albuquerque, após a extinção da comunidade conventual da Batalha, em 1834.
Dessa época é também a galilé da Capela de S. Gonçalo. No interior deste pequeno santuário, atualmente profanado, vê-se ainda o altar, desprovido, no entanto, do magnífico revestimento que possuía, cautelosamente recolhido ao Museu da Diocese de Leiria-Fátima, em 1992, quando sucessivos atos de roubo e vandalismo começavam a ameaçar o património da Quinta da Várzea. Trata-se de um frontal de altar e dois painéis laterais em azulejo policromo do século XVII. O frontal imita uma peça têxtil de manufatura oriental com a mesma função, constituída por uma sanefa franjada e sebastos de grotesco que enquadram uma composição de plantas e animais Ao centro, num medalhão, lê-se a inscrição “.S./GONCALO/DAVARZIA”. Os painéis laterais mostram arranjos florais em grandes vasos, ladeados por pequenos papagaios.
A Quinta da Várzea foi arrematada em hasta pública, em 1837, por Luís da Silva Mouzinho de Albuquerque, primeiro responsável pelo restauro do Mosteiro da Batalha, voltando à posse da Igreja, quando foi adquirida pelo Seminário Diocesano de Leiria, em 1969.
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