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Vitrais

O programa de vitrais para o Mosteiro de Santa Maria da Vitória - que foi, tanto quanto é possível apurar, o primeiro edifício português a receber a distinção de semelhante solução artística - começou a materializar-se provavelmente à volta de finais dos anos 30 ou do começo dos anos 40 do século XV. Entre o que desses vitrais resta, encontramos fragmentos de composições figurativas, de ornato vegetalista e de composições geométricas, sem esquecer um bom número de painéis heráldicos. Pela descrição que Fr. Luís de Sousa faz do monumento, cerca de 1623, ficamos a saber que todas as aberturas da igreja e da Capela do Fundador ainda conservavam os seus vitrais nessa data.

Mouzinho de Albuquerque, primeiro responsável pelo restauro do monumento, a partir do final de 1840, descreve o estado de avançada degradação em que encontrou aqueles vitrais e as soluções que escolheu para resolver os problemas de um sistema de iluminação em grande parte já perdido. Nas janelas das naves encontravam-se restos dos antigos vitrais, que foram apeados, desmontados e voltados a montar em novas calhas de chumbo, formando pequenos painéis, os quais, por vezes, reuniam peças procedentes de partes indiscriminadas dos vitrais originais. Os painéis assim formados destinavam-se a ser colocados a meia altura de grandes caixilhos de madeira com vidros coloridos, que, na falta de um programa de vitral propriamente dito, se pretendia que evocassem uma atmosfera perdida.

Os fragmentos que Mouzinho tinha colocado nos grandes caixilhos de madeira nas janelas das naves laterais foram retirados e tratados entre 1996 e 2005. Por se encontrarem num estado muito avançado de degradação, não voltaram para as janelas onde se encontravam. No entanto, esses são os mais antigos testemunhos da existência de vitrais no Mosteiro da Batalha e em Portugal. Tecnicamente, um vitral é um conjunto de vidros, normalmente corados na massa ou incolores, frequentes vezes pintados, montados numa estrutura de calhas de chumbo.

O primeiro vitralista da Batalha de quem temos conhecimento chamava-se Luís Alemão e veio trabalhar para o mosteiro no final dos anos 30 ou no início dos anos 40 do séc. XV. As características dos vitrais mais antigos aproximam-nos de obras da Francónia e de Nuremberga, no sul da Alemanha, de onde Luís Alemão era certamente oriundo. Os fragmentos que dessas obras nos chegaram mostram profetas com rolos fechados ou abertos, bem como patriarcas, santos e anjos mensageiros. Outros apresentam cenas da vida de Cristo ou relacionadas com a Sua morte e ressurreição.

Alguns dos vitrais do século XV exibem um estilo de base idêntico aos anteriores mas as suas figuras, pintadas com superior refinamento em grandes superfícies de vidro incolor, são mais elegantes. A grande afinidade destas obras com vitrais que se conservam, uma vez mais, em Nuremberga, faz pensar que, por meados do século XV, terá ingressado na oficina da Batalha algum novo artista, compatriota de Luís Alemão.

No final do século XV, aparecem os primeiros sinais de mudança para uma arte com preocupações realistas. Porém, só no decurso da primeira década do século XVI, irão aquelas preocupações realistas ser acompanhadas de profundas transformações na maneira de pintar, com mestre João, um artista de provável origem flamenga.

Na segunda década do século XVI, D. Manuel encomendou conjuntos completos de vitrais para as janelas da capela-mor da igreja e para as da sala do capítulo, onde se encontra refletido o poder da família real, através dos seus retratos e das suas armas, bem como o dos Dominicanos, associados àqueles. Os vitrais foram concebidos e os seu vidros pintados por artistas que eram praticantes de pintura de cavalete, entre eles o pintor da corte de D. Manuel, Francisco Henriques.

Os vitrais da sala do capítulo, datados de 1514, foram provavelmente concebidos por aquele pintor, ainda que pintados por outro artista, cuja identidade se desconhece. Tal como os vitrais da capela-mor da igreja, o conjunto da sala do capítulo é entendido como um grande retábulo, neste caso um tríptico, pelo qual se distribuem cenas da Paixão.

O mosteiro da Batalha foi o centro português de criação de vitral, nos séculos XV e XVI, onde se instalou a maior parte dos praticantes daquela arte, que daqui se deslocou a outros pontos do País para satisfazer diversas encomendas, muitas delas do próprio rei, como no caso da Batalha.

Sabe-se que, até ao final do século XVII, foram contratados vitralistas, sem interrupção, para a manutenção das obras dos séculos anteriores. Durante a centúria que se seguiu, o estado dos vitrais agravou-se substancialmente devido não apenas á falta de cuidados mas também ao terramoto de 1755. As perdas acentuaram-se até ao início das obras de restauro, no final de 1840.

A partir de cerca de 1870, voltaram-se a produzir vitrais na Batalha, desta vez pela oficina de restauro do monumento. Iniciou-se então a substituição de caixilhos de madeira com vidros de cores por verdadeiros vitrais.

A substituição dos caixilhos de madeira foi retomada, no início dos anos 30 do século XX, em algumas das janelas da nave central da igreja, pela Direcção Geral dos Edifícios e Monumentos Nacionais, que para esse efeito contratou a oficina lisboeta de Ricardo Leone. Estas operações foram interrompidas em 1931, data em que se iniciou o restauro dos vitrais da sala do capítulo. Seguiu-se o dos da capela-mor, até 1940. A substituição dos caixilhos de madeira por vitrais não voltou a ser empreendida.

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